Quem não se lembra das famosas histórias da mitologia grega, onde muitos heróis e deuses adquiriam a capacidade de imortalidade e eterna juventude? Ou os famosos contos que enfatizam a tão desejada “fonte da juventude”? Todas essas e muitas outras histórias apenas vem nos comunicar o quanto a idéia de envelhecer traz inúmeras inquietações para todos nós. O envelhecimento é algo inerente à condição humana, entretanto representa um dos maiores medos da humanidade em geral, pois perpassa pela constatação de nossas limitações e finitude. O envelhecimento traz consigo diversas transformações físicas, psicológicas e sociais que colocam o ser idoso, muitas vezes, numa posição de inércia, inutilidade, abandono e morte. A sociedade de forma geral, enxerga o envelhecer como sendo uma doença em que se precisa encontrar a cura. Isso porque, de forma geral, cultua-se o corpo jovem, viril, com formas esguias e sedutoras, as quais o envelhecer se encarrega de desbotar ao longo do tempo. Talvez, por esse motivo, um grande número de pessoas recorre às cirurgias de estética, pílulas milagrosas de rejuvenescimento, tintura nos cabelos, cintas que escondem os sinais da idade, entre outras formas mirabolantes as quais vemos divulgadas na mídia. Todos esses recursos têm o mesmo objetivo: esconder, disfarçar, negar que o tempo passou, as rugas chegaram e já fazem companhia aos muitos cabelos brancos.
Estamos negando o envelhecer, estamos negando o que faz parte de nós a cada segundo sem que percebamos. A sociedade de consumo prega o culto à eterna juventude e beleza, recursos estes que não passam de um desejo mítico o qual nunca teremos de fato. Estamos criando uma constituição de valores sociais que excluem os idosos, deixando-os num lugar distante do nosso desejo, lugar que mais cedo ou mais tarde também estaremos. E se formos sinceros, envelhecer para muitos tem sido de fato viver o terrível pesadelo do abandono, do descaso, da exclusão social, da desesperança, da desvalorização, do desafeto... Sem esquecer aqueles que já nem são lembrados, os desrespeitados ou vítimas de violência.
Nós, como sociedade, o que temos feito para que possamos oferecer aos nossos idosos condições dignas de vida, saúde e bem estar? É preciso que a cidadania garantida por lei e por direito se transforme em ações, atitudes de cuidado, amor e respeito. A psicologia, como área de conhecimento, e como uma ciência que tem por objetivo o compromisso social tem um papel preponderante frente às questões do idoso. É importante ressaltar que ela não deve trabalhar de forma isolada, mas em conjunto com as demais áreas de conhecimento mobilizando e desemborcando na sociedade melhores condições físicas, psicológicas e sociais para a assistência ao idoso.
O psicólogo tem a função de trabalhar as questões sociais, desconstruindo os valores arcaicos que permeiam uma sociedade injusta, trabalhando também com este idoso a auto-estima, a felicidade, o bem-estar, a valorização da memória (experiência de vida), o amor e a gratidão. A depressão nesta fase da vida torna-se comum por diversos fatores pessoais e sociais, mas o auxílio psicológico poderá exercer uma função protagonista na prevenção e manutenção da saúde mental deste idoso. A família em papel fundamental na construção psíquica do idoso, e esta precisa estar ciente das dificuldades e mostrar-se compromissada e responsabilizada pelo parente, dando-lhe proteção, afeto e atenção.
É importante salientar que a carência de profissionais disponíveis para a atenção especial ao idoso ainda é enorme. A reorganização social torna-se necessária e é tarefa de todos nós contribuirmos para a quebra dos valores depreciativos e fazer brotar um ambiente social de acolhimento, afeto e respeito, tendo como base a cidadania e os Direitos Humanos. Cuidar do outro é cuidar de nós. Cuidar do outro requer que revisitemos nossas próprias inquietações, pois são elas que nos impedem de sermos mais eficazes em nossas atitudes.
Bruniele Souza, estudante de Psicologia, Quinto Período, FAVIP – Caruaru – PE
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