sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Idoso na Mídia

"Quando a terceira idade no Brasil for um fato econômico sério, aí a publicidade vai dar gás à terceira idade e o valor que ela merece".



Essa afirmação de uma representante de um dos conselhos estaduais dos idosos, feita num seminário sobre as imagens dos velhos na mídia, estabelece, com propriedade, a relação fundamental entre a capacidade de consumo de um segmento social e suas imagens na mídia.

Os velhos e os avós são personagens presentes em um número grande e variado de narrativas produzidas em diferentes contextos socioculturais e ocupam espaços importantes na televisão, particularmente nas novelas e nos programas humorísticos. 

Mesmo na publicidade, cresce o número de personagens mais velhas a tal ponto que algumas agências têm se especializado na contratação de idosos para responder à demanda crescente do mercado de propagandas por esses atores. Isso não quer dizer que esse segmento abriga consumidores considerados significativos do ponto de vista econômico ou que o idoso é o público alvo das narrativas mediáticas ou dos anúncios publicitários. 

As pesquisas de mercado desde o final dos anos 70 ampliaram a faixa etária do universo pesquisado, substituindo o segmento que correspondia aos indivíduos com "40 anos ou mais", por outro mais velho, os de "65 anos ou mais". Entretanto, os especialistas em marketing também concordam que, diferentemente do que ocorre em boa parte dos países da Europa e na América do Norte, os mais velhos no Brasil são um segmento desprezado do ponto de vista do consumo.

A literatura que trata da imagem do idoso na mídia daqueles países têm apontado mudanças no tratamento dado à velhice depois dos anos 70. Até essa data, as imagens, na sua maioria, eram negativas e desrespeitosas com os idosos, acentuando os estereótipos da dependência física e afetiva, da insegurança e do isolamento. A dramaticidade dessas situações, às vezes, era substituída pelo elemento cômico, em que a teimosia, a tolice e a impertinência dos velhos apareciam como temas explorados, particularmente, nos programas humorísticos. 

A partir dos anos 80, consideram os autores, o velho tende a ser representado de maneira mais positiva, passando a simbolizar o poder, a riqueza, a perspicácia, o prestígio social. Desses estereótipos positivos, como mostram os pesquisadores, não está ausente o sexismo, posto que são, sobretudo, os homens que ocupam essas posições de poder, tendo a mulher um papel secundário. Da mesma forma, eles chamam a atenção para o caráter conservador das novelas televisivas e dos outros programas em que o personagem de mais idade assume essa nova posição. Neles, a velha ordem é celebrada com a defesa dos valores e estilos de vida da sociedade patriarcal. De todo o modo, os autores acentuam que a imagem projetada do envelhecimento é mais positiva, em sintonia com a geração dos baby boomers, que ocupa atualmente um papel central na produção cultural, e que, ao se aproximar dos 60 anos, está empenhada em redefinir os padrões do envelhecimento.

Na mídia brasileira também estão presentes imagens antagônicas dos idosos que têm como referência a situação de dependência e passividade ou o poder. Nos anúncios publicitários, por exemplo, essas representações opostas da velhice podem aparecer num mesmo intervalo comercial.

Uma velha sentada numa cadeira de balanço, vestida com um xale e fazendo tricô levanta-se ao toque de uma campainha e abre a porta da casa para o filho, trocando com ele um largo abraço ao som da locução que divulga a promoção de uma companhia aérea para o mês de maio, mês do dia das mães, dando um desconto de 50% nas passagens.


A promoção de um caderno especial sobre a história do futebol tem como tema uma mesa de bar com três idosos conversando. Um deles tenta lembrar o nome de um jogador que perdeu um pênalti no final de um campeonato, mas não consegue, tampouco lembra o time em que ele jogava e nem mesmo o ano do campeonato. E o locutor diz: "Colecione a memória do futebol.

A propaganda de um carro tem ao fundo imagens do veículo de diferentes cores e no primeiro plano um velho dizendo de maneira arrogante que o carro "é um exagero porque tem um número de cores exorbitante. Verde assim, verde assado, azul assim, azul assado. Isto confunde e para que? Eu tenho dois ternos marrons há 20 anos. E está muito bom! Deviam fazer o C. com duas opções, branco ou preto. Para onde este mundo vai?" E o locutor encerra o anúncio dizendo que aquele é "um carro fora de série".


A imagem do idoso dependente, passivo e retrógrado convive com anúncios que realçam prestígio e poder. A propaganda de um Banco mostra a cena de um casamento em que o noivo/investidor bem-sucedido é um homem velho que se casa com uma jovem que poderia ser sua filha. Uma mulher idosa elegantemente vestida associa o café anunciado à tradição das mulheres de classe dominante.

Chama, no entanto, a atenção na publicidade brasileira o espaço cada vez maior que ganham as propagandas que associam ao idoso um outro conjunto de significados que remete à valorização de práticas inovadoras e subversivas de valores tradicionais, especialmente no que diz respeito à vida familiar, à sexualidade e ao uso de novas tecnologias. Nesses casos, o personagem velho parece competir com o que, até muito recentemente, era visto como papéis e posições exclusivamente adequadas ao jovem. Por exemplo, na propaganda de uma margarina, a família procura a vovó que, ao ser encontrada na cama com um homem velho, diz para os filhos e os netos que olham para ela espantados: "Calma, nós vamos casar". Em outros anúncios, a vovó ensina a neta a acessar sua conta bancária via internet, ou um homem velho consegue emprego depois de obter um diploma universitário. Na propaganda de um microondas uma velhinha afirma que o produto permite uma economia de tempo para fazer coisas mais agradáveis como, por exemplo, sexo; na de um shampoo para crianças, um casal de velhos se ensaboa numa banheira.

Os publicitários explicam o uso dos velhos na propaganda alegando, entre outras coisas, que o segredo do sucesso desses anúncios publicitários está no choque que essas imagens provocam, invertendo o que acontece na vida real ou então trabalhando com a dimensão aspiracional (como a dona de casa na meia-idade que compra a margarina gostaria que fosse sua velhice).
Contudo, nas novelas de televisão - cujo segredo do sucesso, seja qual for, é outro - é também cada vez maior a tendência de fazer com que valores e atitudes que antes eram associados a personagens jovens, tenham nos mais velhos a forma privilegiada de apresentação. Homens e mulheres de mais idade não são apenas personagens escolhidas para retratar poder e riqueza acumulada, mas também personagens que, às vezes competindo com os próprios filhos, envolvem-se em relações amorosas com indivíduos em faixas etárias mais jovens, estão dispostos a revolucionar a moral sexual vigente ou a denunciar a corrupção política no país e adotar estilos de vida alternativos.

A expressão do abandono e da solidão nas novelas tem certamente nos velhos um elemento forte, mas eles agora são também apresentados como ativos, capazes de oferecer respostas criativas ao conjunto de mudanças sociais, reciclando identidades anteriores, desenvolvendo novas formas de sociabilidade e de lazer e redefinindo as relações com a família e os parentes.

Da mesma forma, os jovens, oferecendo o contraste necessário a esse gênero narrativo, tendem a ser retratados como indivíduos dependentes da orientação paterna para dirigir suas vidas ou como seres dispostos a se utilizar de todos os meios para atingir seus objetivos de ascensão social; ou, ainda, como adultos prematuros encarregados de mostrar a seus pais ou familiares mais velhos que é preciso amadurecer e ter o cuidado de não se envolver em aventuras perigosas.

O drama da velhice é retratado em reportagens através da apresentação de velhos abandonados em asilos. Entretanto, já é praxe que nessas matérias, logo depois dessas imagens do abandono, sejam apresentados velhos, muito velhos, que continuam desenvolvendo atividades criativas, escrevendo livros, expondo trabalhos artísticos. "Velho é o seu preconceito", diz Cartola, um sambista que fez sucesso depois dos 65 anos, na propaganda da campanha para a vacinação dos idosos contra a gripe e o tétano. Na mesma campanha publicitária, Cora Coralina, poetisa que começou a publicar suas poesias aos 88 anos, assim como outras personalidades de sucesso mais velhas desafiam os preconceitos dos próprios velhos.

Cora Carolina


O tamanho das filas para o recebimento da aposentadoria e a demora no atendimento dos direitos dos aposentados são também formas encontradas para retratar a condição de miséria e vulnerabilidade dos mais velhos. Mas os militantes do movimento apresentados pelos jornais e televisão confrontam essas idéias, mostrando-se bem articulados e empenhados em exibir o quanto são ativos, lúcidos, participantes e prontamente capazes de responder adequadamente a todo o tipo de preconceito e discriminação por parte do Estado e dos políticos.

As imagens do idoso na mídia revelam, sem dúvida, um compromisso com uma imagem mais gratificante da velhice e do envelhecimento. Esse compromisso, no entanto, tende a estabelecer uma nova fronteira entre os indivíduos de idade avançada, aqueles que rejeitam ativamente o envelhecimento e os que negligentemente se deixam envelhecer. A velhice é transformada numa questão de escolha a partir de um duplo movimento de re-significação.


A juventude, por um lado, perde conexão com um grupo etário específico, deixa de ser um estágio na vida para se transformar em valor, um bem a ser conquistado em qualquer idade, através do envolvimento em atividades motivadoras e da adoção de estilos de vida adequados. Por outro lado. a velhice é resultado de uma espécie de lassitude moral, um problema de indivíduos descuidados que não souberam se envolver em atividades motivadoras e consumir bens e serviços capazes de combater o envelhecimento.
As imagens do idoso na mídia são, assim, ativas na criação de novas hierarquias sociais, na medida em que a velhice e o envelhecimento passam a ser uma espécie de doença auto-infligida, resultado da negligência com o corpo e com o bem-estar. Ser velho ou se comportar como velho são questões de escolha, são coisas que poderiam ser evitadas se as opções cuidadosas e corretas tivessem sido postas em ação. Essas novas imagens da velhice - em sintonia com a cultura do consumidor, com certas práticas gerontológicas e com as políticas públicas interessadas em reduzir os custos da saúde - transformam o direito de escolha num dever de todos, numa realidade inescapável a que estamos todos condenados. A responsabilidade individual pela escolha é igualmente distribuída, mas sabemos que os meios para agir de acordo com essa responsabilidade não o são. Acrescentar liberdade de ação à desigualdade fundamental da condição social, impondo o dever da liberdade sem os recursos que permitem uma escolha verdadeiramente livre é, numa sociedade altamente hierarquizada como a brasileira, uma receita para uma vida sem dignidade, repleta de humilhação e autodepreciação.

Por Guita Grin Debert (antropóloga e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp)

Extraído de: http://www.cph.com.br/pessoal_artigo7.php

terça-feira, 26 de julho de 2011

Idosos: bebam mais água!!!!



Sempre que dou aula de Clínica Médica a estudantes do quarto anode Medicina, lanço a pergunta: "Quais as causas que mais fazem o vovô ou a vovó terem confusão mental?" Alguns arriscam: "Tumor nacabeça". Eu digo: "Não". Outros apostam: "Mal de Alzheimer". Respondo, novamente: "Não". A cada negativa a turma espanta-se. E fica ainda mais boquiaberta quando enumero os três responsáveis mais comuns: diabetes descontrolado; infecção urinária; a família passou um dia inteiro no shopping, enquanto os idosos ficaram em casa.

Parece brincadeira, mas não é. Constantemente vovô e vovó, sem sentir sede, deixam de tomar líquidos. Quando falta gente em casa para lembrá-los, desidratam-se com rapidez. A desidratação tende a ser grave e afeta todo o organismo. Pode causar confusão mental abrupta, queda de pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos("batedeira"), angina (dor no peito), coma e até morte.

Insisto: não é brincadeira. Ao nascermos, 90% do nosso corpo é constituído de água. Na adolescência, isso cai para 70%. Na fase adulta, para 60%. Na terceira idade, que começa aos 60 anos, temos pouco mais de 50% de água. Isso faz parte do processo natural deenvelhecimento. Portanto, de saída, os idosos têm menor reserva hídrica. Mas há outro complicador: mesmo desidratados, eles não sentem vontade de tomar água, pois os seus mecanismos de equilíbrio interno não funcionam muito bem.

Explico: nós temos sensores de água em várias partes do organismo. São eles que verificam a adequação do nível. Quando ele cai, aciona-se automaticamente um "alarme". Pouca água significa menor quantidade de sangue, de oxigênio e de sais minerais em nossas artérias e veias. Por isso, o corpo "pede" água. A informação é passada ao cérebro, a gente sente sede e sai em busca de líquidos.

Nos idosos, porém, esses mecanismos são menos eficientes. A detecção de falta de água corporal e a percepção da sede ficam prejudicadas. Alguns, ainda, devido a certas doenças, como a dolorosa artrose, evitam movimentar-se até para ir tomar água. Conclusão: idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reserva hídrica menor, mas também porque percebem menos a falta de água em seu corpo. Além disso, para a desidratação ser grave, eles não precisam de grandes perdas, como diarréias, vômitos ou exposição intensa ao sol. Basta o dia estar quente - e o verão já vem aí - ou a umidadedo ar baixar muito - como tem sido comum nos últimos meses. Nessas situações, perde-se mais água pela respiração e pelo suor.

Se não houver reposição adequada, é desidratação na certa. Mesmo que o idoso seja saudável, fica prejudicado o desempenho das reações químicas e funções de todo o seu organismo.

Por isso, aqui vão dois alertas. O primeiro é para vovós e vovôs: tornem voluntário o hábito de beber líquidos. Bebam toda vez que houver uma oportunidade. Por líquido entenda-se água, sucos, chás, água-de-coco, leite. Sopa, gelatina e frutas ricas em água, como melão, melancia, abacaxi, laranja e tangerina, também funcionam. O importante é, a cada duas horas, botar algum líquido para dentro. Lembrem-se disso!

Meu segundo alerta é para os familiares: ofereçam constantemente líquidos aos idosos. Lembrem-lhes de que isso é vital. Ao mesmo tempo, fiquem atentos. Ao perceberem que estão rejeitando líquidos e, de um dia para o outro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, atenção. É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de desidratação. Líquido neles e rápido para um serviço médico.

Arnaldo Lichtenstein (46), médico, é clínico-geral do Hospital das Clínicas e professor colaborador do Departamento de Clínica Médicada Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Postado por Daniela Satiko Okuma

sábado, 23 de julho de 2011

Envelhecimento, Linguagem e Qualidade de Vida

Autora: Fga. Lilian Juana L. de Gamburgo


A linguagem, objeto de interesse e estudo da Fonoaudiologia, constitui um dos aspectos fundamentais da vida do homem. A capacidade de comunicação é o instrumento de interação social por excelência e se desenvolve ao longo da vida através de múltiplas relações em contínua transformação (Rabadán, 1998). A linguagem permite a transmissão dos conhecimentos que o homem adquiriu ao longo de sua história. É através da linguagem que as pessoas resolvem seus problemas, expressam suas idéias, pensamentos e sentimentos. A linguagem possibilita o crescimento e o desenvolvimento do potencial que existem em cada um, ativado e intensificado através das relações humanas.
O envelhecimento origina uma deterioração da capacidade comunicativa, do mesmo modo como o faz nos outros aspectos da vida e da saúde. Existem, segundo Mascaro (1997) “várias maneiras” de se envelhecer, que dependem de circunstâncias de ordem biológica, psicológica, social, histórica, cultural.
Conforme Rabadán (1998), a comunicação na velhice é determinada por um processo sociocultural, assinalado pelo afastamento do homem do sistema produtivo, e por um processo biológico, marcado pela deterioração, que é característica da última fase da vida.
As teorias biológicas que explicam o envelhecimento (processo que independe da vontade do homem), afirmam que o mesmo é resultado de fatores variados -intrínsecos e extrínsecos - que devem ser considerados em um contexto amplo, sendo a herança genética (fator de ordem intrínseca, juntamente com os radicais livres, o sistema de defesas e outros) quem determina a maior ou menor longevidade e as probabilidades de aparição de determinadas doenças. Entre os fatores extrínsecos -igualmente importantes- destacam-se a exposição à radiação, à poluição, fatores alimentares e o estresse.
Assim, do ponto de vista biológico, o envelhecimento é caracterizado por modificações sucessivas de todas as estruturas e sistemas, que provocam uma diminuição da capacidade de adaptação ao meio ambiente. Ribeiro (1999) diz que todos os seres vivos de reprodução sexuada envelhecem, modificando-se com o tempo em direção a uma diminuição de sua performance.
O tema do envelhecimento adquire excepcional relevância neste momento pois no Brasil têm acontecido, nas ultimas décadas, um crescimento acelerado da população idosa. Silvestre et al (1996) e Zimerman (2000) revelam que o nosso país vem apresentando uma expressiva mudança no seu perfil populacional, pois de uma situação de elevadas fecundidade e mortalidade, passou-se para outra, de baixa fecundidade e menor mortalidade. A esperança de vida atualmente é de 67 anos e, em 2025, considera-se que poderá chegar aos 74 anos (Zimerman, 2000). Isto torna necessário que haja maior dedicação e mais estudos por parte dos profissionais que se ocupam da saúde desta parcela da população, incluído o fonoaudiólogo.
Concordamos com Zimerman (2000) em que, em função das mudanças demográficas ocorridas, não é mais possível ignorar a necessidade de atenção à velhice por parte dos âmbitos político, econômico, da saúde e institucional. Os idosos têm necessidades e características próprias que devem ser atendidas através da criação de novos espaços, serviços e produtos, assim como da reformulação de posturas e conceitos.
Não existe um consenso em relação a qual é “idade do envelhecer”, assim como não há um marco fixo para definir que esta ou aquela seja a idade de se “ficar velho”. Há, não obstante, acordo entre os diversos campos científicos que estudam o envelhecimento em relação à grande heterogeneidade existente entre os idosos em todos os aspectos. A idade cronológica não ocasiona o início da velhice nem de qualquer outro período etário; ela deve servir como um parâmetro para se julgar a maturidade social do indivíduo, ou como uma referência para compreender as mudanças evolutivas (Néri, 1995).
Tanto os geriatras -médicos que se dedicam a estudar, prevenir e tratar os aspectos patológicos do envelhecimento - quanto os gerontólogos - especializados nos aspectos biológicos, sociais e psicológicos - estão de acordo ao afirmar que o envelhecimento é uma experiência individualizada e heterogênea (Mascaro, 1997). Tal fato exige que estes profissionais, assim como todos os outros que se dedicam ao estudo do envelhecimento e ao cuidado do indivíduo idoso, levem em consideração esta singularidade para não cometer o erro de fazer generalizações impróprias.
O envelhecimento é um campo de interesse, pesquisa e atuação de grande número de especialidades. Ele constitui um âmbito ímpar para o trabalho interdisciplinar, uma vez que profissionais de diversas áreas (medicina, enfermagem, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, gerontologia, terapia ocupacional, etc.) têm possibilidades de oferecer uma contribuição decisiva para melhorar a qualidade de vida do idoso, através da prática do intercâmbio e da cooperação, assim como da busca de uma linguagem comum entre as diversas ciências.
Néri (1995) afirma que a velhice não é um período caracterizado só por perdas e limitações, sendo possível manter e até aprimorar as funções cognitivas, físicas e afetivas, a despeito do aumento da probabilidade de doenças e limitações. Um dos desafios que as ciências atualmente enfrentam é o de perceber os limites e as potencialidades para o desenvolvimento na velhice, assim como as condições que aceleram, retardam ou compensam os resultados das mudanças ocorridas como conseqüência do envelhecimento.
É aceito entre os especialistas que há muito para se estudar a respeito do envelhecimento, bem como a idéia de que é essencial para o desenvolvimento integral na velhice a busca de um equilíbrio entre potencialidades e limitações. Se por um lado, o envelhecimento significa declínio e incapacidade, o indivíduo e a cultura podem criar condições de progresso e desenvolvimento. (idem, 1995).


Fala-se hoje de velhice bem-sucedida e velhice produtiva, expressões usadas na literatura quando se fala de envelhecer bem. O conceito velhice bem-sucedida se relaciona à idéia de realização do próprio potencial para alcançar um grau desejável de bem-estar físico, psicológico e social, assim como ao logro de um funcionamento similar ao da população mais jovem e à “manutenção da competência em domínios selecionados do funcionamento, através de mecanismos de compensação e otimização”. (Néri, 1999: 116).
Velhice produtiva é um conceito que compreende as possibilidades de o idoso exercer diversas funções e papéis num momento em que cada vez mais pessoas vêem como possível envelhecer bem, considerando-se como manifestações de produtividade na velhice: exercer trabalhos remunerados e também não-remunerados, porém valiosos social e economicamente, como cuidar de outros idosos, da casa, dos netos; trabalhos voluntários na comunidade; atividades de lazer proveitosas para a própria pessoa; a criação de novas áreas de consumo como conseqüência de uma melhoria do padrão de vida (idem, 118)
A Fonoaudiologia no Brasil vem pesquisando a linguagem do indivíduo idoso nos casos de afasias e das demências senis, e também são realizados estudos para compreender e minimizar as conseqüências da presbiacusia e da presbifonia na comunicação. Porém, nota-se uma falta de estudos relacionados à linguagem no envelhecimento sadio, estudos estes necessários para que seja possível atuar preventivamente, com o objetivo de garantir uma maior qualidade de vida.
É essencial conhecer a linguagem das pessoas idosas, as mudanças que ocorrem ao longo do tempo, seus mecanismos e deficiências. Deste modo será possível desenhar programas de intervenção e prevenção a serem postos em prática no âmbito familiar, nos clubes de terceira idade, nas instituições, nos lares para idosos, e desse modo contribuir para conservação da comunicação destes indivíduos nas melhores condições possíveis.
A intervenção deve ter como meta básica possibilitar o desenvolvimento de estratégias que ajudem a aprimorar as interações sociais e familiares, paliando e compensando a deterioração lingüística. Os idosos podem e devem, quando é possível, conservar ou readquirir o controle de suas vidas, realizar atividades criativas, integrando âmbitos sociais ricos e estimulantes. Ao estarem inseridos em grupos familiares e sociais, os idosos têm a oportunidade de realizar troca de experiências que favoreçam o desenvolvimento pessoal, criando novas possibilidades de humanização e abordagem de seus problemas (Penteado, 2000).
A vida dos idosos parece ser feita de rotinas e automatismos: os que vivem em família ou em lares vêem sua vida organizada por outras pessoas, de modo que suas perdas sensoriais ou de memória sejam compensadas e a segurança seja garantida. Porém, os idosos menos deteriorados devem ter maior controle de todos os aspectos de sua vida, realizando atividades criativas e tomando suas próprias decisões.
Cabe aos profissionais que lidam com o envelhecimento orientar os idosos quanto aos aspectos relativos a uma vida qualitativamente melhor: adoção de uma alimentação equilibrada, manutenção de hábitos saudáveis, combate ao sedentarismo, práticas voltadas à prevenção de doenças, manutenção das relações afetivas e sociais e das atividades que favoreçam as interações e o uso da comunicação.


Referências Bibliográficas

MASCARO, S. A.: O que é velhice. São Paulo: Brasiliense, 1997.

NÉRI, A. L.: O Desenvolvimento Integral do Homem. A Terceira Idade.
...São Paulo:Ano VI, No. 10, 4-15, julho de 1995.

NÉRI, A. L. e CACHIONI, M.: Velhice bem-sucedida e educação. In: NERI, A. L. et 
...al: Velhice e sociedade. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999.

PENTEADO, R. Z.: A Linguagem no Grupo Fonoaudiológico: potencial latente 
...para a Promoção da saúde. São Paulo, 2000. 146 p. Dissertação (Mestrado ...em Saúde Pública) - Universidade de São Paulo.RABADÁN, O. J.: Lenguaje y envejecimiento. Bases para la intervención. Barcelo-...na: Masson, 1998.RIBEIRO, A.: Aspectos biológicos do envelhecimento. In: RUSSO, I. C. P: ...Intervenção Fonoaudiológica na Terceira Idade. Rio de Janeiro: Revinter, ...1999, p 1-11.SILVESTRE, J. A., et al: O Envelhecimento populacional brasileiro e o setor de ...saúde. Arquivos de Geriatria e Gerontologia, Vol 0, No. 1, 81-89, set 1996.ZIMERMAN, G.I: Velhice. Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas ...Sul, 2000.

Bibliografia Complementar

FERIOTTI, M. L: A Questão da Interdisciplinaridade na Saúde. Revista de
...Ciências médicas. PUCCAMP, Campinas, 4 (3): 130-132, set-dez, 1995.

MARQUES, J. F: Antienvelhecimento e qualidade de vida. Aula. Disciplina Estudos 
...Integrados em Fonoaudiologia, PUC-Campinas, setembro de 2001. 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A CASA SEGURA


" (...) A possibilidade de ser visualizada como uma casa normal, para pessoas que querem ter uma vida normal é um preceito importante da Casa Segura. (...) apresenta-se uma casa, segura desde sua entrada, permitindo um circuito atento por todo o interior, absorvendo seu conceito e conhecendo seu desenho. Nada do que vai ser apresentado é especificamente extraordinário já que o que se pretende é que este modelo de casa seja simples e funcional." 



EXTERIOR



Acesso fácil sem barreiras – piso externo
áspero com marcações claras dos caminhos.



Porta da frente– vão igual ou maior que 80 cm livre.


Espaço livre para circulação junto à porta.





Fechadura sobre a maçaneta




Maçaneta tipo alavanca






Trincos de segurança deslizantes

Molas aéreas ou dobradiças com molas que mantêm as portas fechadas, Cartões magnéticos, controles      remotos, aberturas automáticas.


Exterior bem iluminado, facilitando a visão do interior para fora





COZINHA E ÁREA DE SERVIÇO 


Fluxo preparo-processamento-cocção

PIA E BANCADA
  • Altura média 85 a 90 cm
  • Torneiras de fácil manuseio – ½ volta, alavanca, monocomando - Clique aqui para ver a figura
  • Filtro protetor para evitar entupimentos
  • Armários não muito altos
  • Objetos mais leves e pouco utilizados devem ser guardados nos
    armários superiores - Clique aqui para ver a figura
  • Armários inferiores com portas e com área livre para movimentação das pernas no caso do uso de cadeira, banqueta ou cadeira de rodas; - Clique aqui para ver a figura
  • Gavetas de fácil abertura, com trava de segurança;
  • Gavetas com divisões para talheres; porta facas
  • Objetos de uso freqüente devem ficar em locais de fácil acesso - Clique aqui para ver a figura
  • Apoio para alimentos próximo aos equipamentos : largura mínima de 45 cm
  • Barras de apoio instaladas em locais firmes
FOGÃO
  • Botões de controle na parte da frente - Clique aqui para ver a figura
  • Controles automáticos que fecham automaticamente o gás quando a chama se apaga, tanto nos queimadores quanto no forno
  • Botões e controles contrastantes com o fundo facilitando a visualização de temperaturas e ajustes
  • Controles digitais com números grandes, e sinais auditivos também devem ser usados
  • Controles de equipamentos embutidos devem ficar em local de fácil acesso
  • Luvas térmicas e suporte fortes para pegar utensílios quentes - Clique aqui para ver a figura
  • Aquecedor fora da cozinha e bujão de gás fora da casa
GELADEIRA COM CONGELADOR
  • Manter limpa, funcionando
  • Evitar colocar peso nas portas
  • Observar umidade
  • Preferir altura de prateleiras que permita o acesso sem precisar abaixar muito nem levantar muito os braços
CARRINHO DE RODAS E OUTROS UTENSÍLIOS
  • Um carrinho ajuda a mover utensílios e vasilhas da cozinha para outros ambientes
  • Pratos e copos devem ser de plástico ou metal
  • Cafeteira elétrica deverá usar bule de plástico
  • Garrafa térmica também de plástico
  • Forno elétrico ou microondas deverão ser instalados em local de fácil acesso e permanecer desligados após o uso
TANQUE E TÁBUA DE PASSAR
  • Altura adequada para serem utilizados estando a pessoa na posição sentada: 75 cm
  • Ferro com fio espiralado, com suporte fixo e controle automático de temperatura para evitar acidentes.
  • Aquecedor a gás sempre na área em local próximo a aberturas para o exterior, com controle de temperatura e acionamento de chama somente quando for acionada alguma torneira
  • Tomadas altas: 1,00 a 1,20 m para a lavanderia.
  • Armários com portas devem ficar fora das áreas de circulação - Clique aqui para ver a figura

BANHEIROS 

Paredes em alvenaria com resistência suficiente para a instalação de barras de segurança fixadas por buchas.




Banheira só se houver espaço para banheira e box. Deverá ser provida de barras de segurança e ter os comandos para fora ou à distância.
Espaço interno do banheiro ou box para circulação de duas pessoas: facilita a ajuda do cuidador se for o caso. 



BANHO
  • BOX - piso e proteção anti-derrapante - Clique aqui para ver a figura
  • Largura mínima do box : 80 cm
  • Desnível máximo de 1,5 cm em relação ao piso do banheiro
  • Assento para banho fixo, largura mínima 45 cm, altura 46 cm do piso - Clique aqui para ver a figura
  • Suporte/ corrimão lateral/ barras de apoio alturas variáveis – Clique aqui para ver a figura
  • Chuveiro portátil
  • Porta objetos fixo
  • Saboneteira para sabão líquido com altura média de1,20 m
  • Fechamento do box com material inquebrável e firme, sistemas de porta de correr, ou utilização apenas de cortina plástica
  • Torneiras de fácil manuseio – monocomando - Clique aqui para ver a figura
  • Tapete externo de borracha com ventosas
  • Porta toalha bem próximo ao box altura média de 1,30 m
VASO SANITÁRIO
  • Altura média : 48 a 50 cm
  • Aumentar em 10 cm a base do vaso, conforme indica a NBR 9050 - Clique aqui para ver a figura
  • Descarga simples – caixa acoplada, ou descarga por botão
  • Ducha higiênica manual altura média de 45 cm do piso
  • Sabonete líquido próximo
  • Papeleira externa de fácil acesso altura média de 45 cm do piso
  • Barras de apoio altura de 30 cm acima do tampo do vaso. - Clique aqui para ver a figura
BANCADA
  • Altura entre 80 e 85 cm
  • Torneiras de fácil manuseio – ½ volta, alavanca, monocomando ou com célula fotoelétrica.
  • Distância máxima das torneiras em relação à face externa frontal - 0,50 m
  • Pia com ralo protetor
  • Barras de apoio junto ao lavatório
  • Tomadas e interruptores altos em área seca – 1,10m a 1,30m
  • Sabonete líquido
  • Porta toalhas alto e próximo da bancada – 1,10m a 1,30m
  • Gabinete com área livre para movimentação das pernas no caso do uso de cadeira, banqueta ou cadeira de rodas
  • Espelho frontal iluminado
  • Espelho de aumento
  • Apoio de escovas, lâminas, tubos, remédios em material inquebrável
  • Lanterna, caneta e lente de aumento para ler e marcar os remédios na gaveta ou porta medicamentos
  • Prateleiras internas em material inquebrável
  • Gavetas com trava de segurança
Portas de entrada com no mínimo 70 cm – ideal 80 cm

QUARTO DE DORMIR E VESTIR 

CAMA – Largura variável – altura de 45 a 50 cm incluindo o colchão que deve ter densidade adequada ao peso do usuário. É importante que a pessoa sentada na beirada da cama, apóie os pés no chão, evitando assim a hipotensão postural (tonteira). A cama deverá ter cabeceira que permita à pessoa recostar-se. Evitar a sensação de frio, usando sempre colcha ou cobertor preso ao pé da cama. Pessoas muito idosas ( acima dos 80 anos ) devem ser desestimuladas ao uso de mais de um travesseiro, procedimento que também é adotado para as crianças e pelo mesmo motivo, que é o de evitar o sufocamento.
MESA DE CABECEIRA – Altura cerca de 10 cm acima da cama. Bordas arredondadas. Sempre que possível fixada no chão ou na parede, evitando assim que se desloque caso a pessoa precise apoiar-se nela ao levantar.

ASSESSÓRIOS – Relógio digital com números grandes; suporte para copos e copos de plástico ou metal; telefone e números de auxílio; lanterna na gaveta para emergências; controle remoto para TV e sistema de ar condicionado ou de aquecimento elétrico; abajur fixo na mesa ou na parede.


ARMÁRIO – Portas leves, de fácil acesso, arejadas, cabideiro baixo; gavetas com trava de segurança nos deslizantes; prateleiras com alturas variáveis, luz interna ao abrir a porta, puxadores do tipo alça.

JANELAS – Sistema de abertura sempre para dentro ou de correr; persianas

CADEIRA OU POLTRONA – Ajuda para calçar meias e sapatos.



SALA DE ESTAR E JANTAR 
  • Paredes de cores claras
  • Usar cores e diferenças de texturas para estimular o idoso
  • Iluminação uniforme, contínua (vários pontos) e anti-ofuscante
    ( lâmpadas leitosas, iluminação indireta) e três vezes mais forte que o
    normal, para compensar as dificuldades visuais - Clique aqui para ver a figura
  • Ambientes livres de obstáculos, principalmente
    objetos e móveis baixos - Clique aqui para ver a figura
  • Personalização do ambiente com objetos pessoais, tais como fotografias de familiares, eventos significativos, viagens, elementos que tragam recordações. - Clique aqui para ver a figura
POLTRONAS E SOFÁS
Confortáveis, de boa altura (média 50 cm) , fáceis de sentar e levantar ( profundidade média 70 a 80 cm) , com braços. Os assentos não devem ser muito macios, densidade moderada.

CADEIRAS
Com braços de apoio lateral e espaldar alto

MESA DE APOIO
Com telefone, abajur, próximo ao sofá, sem quinas vivas, evitar vidros ou materiais cortantes (altura média 60 cm)

ESTANTE

Com prateleiras , bem fixada ao piso ou à parede. Aparelhos de som ou TV com controle remoto. Evitar objetos pesados e de vidro.

MESA DE JANTAR
Altura média de 75 cm. Bordas arredondadas.


Não usar tapete embaixo. Cadeiras sem braço. Espaço livre para movimentação no entorno.

ILUMINAÇÃO
  • Interruptores de luz em altura confortável ( 1,10 m ) nas entradas e saídas
  • Interruptores para abajur junto aos interruptores de luz
  • Boa iluminação com luminárias de fácil manutenção/
    substituição de lâmpadas - Clique aqui para ver a figura

ESCADAS E ÁREAS DE CIRCULAÇÃO 

JARDINS E JARDINEIRAS 

Prever equipamento adequado para utilização na posição sentada, permitindo assim ao idoso mater seus habitos de lazer.


COMO NORMA GERAL: 
  • EVITAR: Prateleiras de vidro e superfícies cortantes dentro dos banheiros
  • Quinas vivas no móveis, bancadas e passagens
  • Aquecedores a gás dentro dos banheiros.
  • Tapetes soltos 
  • Cortinas pesadas
  • Fumantes no quarto
  • Andar só de meias dentro de casa
  • Fios elétricos e de telefone soltos - Clique aqui para ver a figura
  • Escadas dobráveis
  • Panos e fósforos próximos à boca do fogão USAR: Chinelos anti-derrapantes dentro de casa
  • Interruptores de luz próximos à cama - Clique aqui para ver a figura
  • Sistemas de controle eletrônico viva-voz ( para pessoas que necessitam ajuda à noite)
  • Luz de emergência e luz noturna nos corredores, banheiros e cozinha - Clique aqui para ver a figura
  • Intercomunicador dentro dos banheiros e cozinha
  • Piso cerâmico anti-derrapante na cozinha, área e banheiros

Extraído de http://www.casasegura.arq.br/a_casa.php




domingo, 17 de julho de 2011

Cuidando de nossos heróis: a inversão dos papéis

    

Olhar nos olhos daqueles que nos carregaram no colo e perceber que passamos a ser seu principal, e às vezes único ponto de apoio, é uma situação difícil de ser lidada e principalmente compreendida. Como aceitar que eles, que figuraram durante muito tempo como nossos heróis e exerceram tantas outras funções que os pais exercem como a de educadores, enfermeiros e psicólogos dos filhos, agora se encontram em um estado de fragilidade e carência nunca antes imaginado para estes heróis.
Uso o exemplo do heroísmo, não só porque os dizeres populares nos falam “meu pai, meu herói”, mas porque realmente os pais exercem um papel de exemplo, devotamento e cuidado para conosco que fica marcado em nossas vidas para sempre. Uma marca que traz consigo a imagem do pai ou mãe como apoio, aquele que tudo pode, tudo resolve e consola. Aquele que sabe mais e conhece tudo aquilo que não conhecemos, e para os quais incansavelmente não parávamos de perguntar sobre tudo na “idade das perguntas” que todas as crianças atravessam.
A sensação perante a impotência e carência dos pais idosos em estado debilitado pode fazer surgir à primeira vista,  um certo sentimento de distanciamento, que não quer presenciar a situação, por não saber lidar com o desconforto desse novo estado, no qual os papéis se invertem, e somos confrontados com a notícia de que agora os heróis somos nos, queiramos ou não, saibamos ou não como fazê-lo.
Certamente, o distanciamento não é a melhor opção para nenhum dos dois lados, e pode levar ao abandono e à solidão do idoso, mesmo que este esteja assistido pelo apoio de profissionais ou de uma instituição.
Por outro lado, estar sempre por perto e assumir o papel de herói no cuidado com os pais idosos exige compreensão e esclarecimento, sem os quais muitos filhos atravessam este período com pesar e tristeza.
Estreitar o elo que nos liga aos nossos pais, e que em alguns casos já não recebe tanta atenção ou perdeu a força com o passar dos anos, é o primeiro desafio, que se superado pode transformar o período de cuidado em uma jornada mais amena e afetuosa. Não podemos esquecer que afeto e o carinho são alguns dos melhores remédios para estados de enfermidade, depressão e degeneração no idoso, e de que a proximidade com nossos pais é feita não somente através de nossa presença física, mas através do coração. É este tipo de proximidade que nos ajuda a cuidar melhor deles.
O segundo passo nos leva de volta à questão do herói, que entra em cena de forma um pouco diferente daquela através da qual nossos pais entraram em cena na maioria das vezes durante a infância. Este novo herói, que é o filho cuidador, não pode ser o herói que carrega os pais no colo, reforçando sua impotência e apagando o herói que eles mesmos representaram durante a vida. O filho herói é um tipo diferente de herói, é o herói companheiro, que senta ao lado do pai herói para lembrá-lo de que ele não perdeu sua força e suas qualidades. São dois heróis amigos e capazes que ali se encontram lado a lado em meio a uma situação desafiadora, e não somente um único herói filho diante de uma mãe ou pai idoso.
Incentivar a conservação da integridade e da independência nos mais velhos pode ser algo digno de um trabalho mítico, principalmente nos casos em que vemos nosso pais abandonarem a si próprios diante da adversidade. Mas é nessas horas que cabe ao herói filho, ajudar a resgatar muito do que os pais representaram e ainda podem representar mesmo na velhice. Por mais que as limitações físicas e as vezes, psicológicas, digam o contrário, há valores que permanecem. Sabedoria, memória, carinho e capacidades únicas de cada pai ou mãe idosa podem sempre ser relembradas e reconhecidas, tendo uma importe função nessa nova relação. A vontade própria e a personalidade dos mais velhos também devem ser respeitada e levada em conta enquanto o idoso apresentar lucidez, considerando os jeitinhos, manias, decisões e as preferências deles. Pedir conselhos e consultá-los são atitudes significativas, que ajudam o idoso a se auto afirmar e exercitar suas capacidades intelectuais.
O trabalho emocional desta nova fase é igualmente uma jornada que deve ser compartilhada entre heróis. Ao mesmo tempo em que há todo um lado emocional a ser trabalhado nos idosos, é igualmente importante cuidar do emocional interno dos filhos. Se eles forem os primeiros a se entregarem ao desespero nessas horas, aos pais idosos não demorará muito para que compartilhem do mesmo estado, aceitando sua condição de impotência e soterrando para sempre o herói que ainda vive em seu interior.
Cuidar dos pais idosos é de qualquer forma uma tarefa heróica, que algumas vezes se aproxima das lutas e batalhas épicas vividas pelos heróis das histórias e lendas. Mas muitas vezes, essa tarefa também exige que o filho herói mostre uma outra face, a do amor, da calma, da doação e da paciência. Vivenciando ao máximo e da melhor forma possível cada etapa do processo que é cuidar dos pais, aceitando, entendendo ouvindo e compartilhando. Uma atitude um pouco diferente daquela do herói que somente levanta a espada e trava batalhas contra as situações que não aceita.
Paralelamente, a tarefa heróica pode ser também uma tarefa pessoal dos filhos para consigo mesmo, que convida à experiência, mudança e evolução interna durante o processo que é a jornada do cuidado com os pais. Uma jornada na qual os detalhes do caminho importam muito mais do que “como” e “quando” esse caminho pode vir a ter um fim.

 Por Cristina Carmelo (Psicóloga especializada no tratamento de idosas)



quinta-feira, 14 de julho de 2011

Idade avançada traz mesmo sabedoria, confirma estudo

Pessoas mais velhas mostram-se mais capazes de administrar conflitos e de compreender divergências


E a vovó estava certa: ouça os mais velhos. Nova pesquisa indica que as pessoas de mais idade são realmente sábias, no sentido de saberem como administrar conflitos humanos e em aceitar as incertezas inevitáveis da vida.
Não se trata de quantos fatos uma pessoa conhece, ou da capacidade de operar um controle remoto universal, mas da capacidade de lidar com desentendimentos – da sabedoria social.
Pesquisadores liderados por Richard E. Nisbett, da Universidade de Michigan, determinou que os mais velhos têm maior probabilidade, na comparação com jovens e pessoas de meia-idade, de perceber que as pessoas podem ter valores diferentes, reconhecer incertezas, aceitar que as coisas mudam e reconhecer outros pontos de vista.
“O efeito da idade na sabedoria se mantém em todas as classes sociais, níveis de educação e de QI”, informam os autores da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Em uma fase do estudo, os pesquisadores recrutaram 247 pessoas em Michigan e dividiram-nas em grupos de tamanho aproximadamente igual com idades de 25 a 40, 41 a 59 e de 60 para cima.
Os participantes receberam relatos fictícios sobre conflitos em um país estrangeiro e fizeram uma estimativa de qual seria o resultado.
Por exemplo, um dos relatos afirmava que muitas pessoas do Quirguistão estavam emigrando para o Tajiquistão. E, embora os imigrantes desejem preservar seus costumes, os tajiques exigem que eles se deixem assimilar por completo.
As respostas foram avaliadas por pesquisadores que não sabiam de que faixa etária os relatórios vinham. As notas foram dadas com base em critérios de busca por um acordo, flexibilidade, aceitar a perspectiva do outro e buscar uma solução para o conflito.
Embora os pesquisadores esperassem que a sabedoria aumentasse com a idade, eles ficaram surpresos em ver como os resultados se mostraram fortes na análise de disputas sociais, disse Nisbett. “Houve uma grande vantagem dos velhos sobre os moços nesse caso”, disse ele.

Extraído de: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,idade-avancada-traz-mesmo-sabedoria-confirma-estudo,534007,0.htm