Por outro lado, as transformações que o corpo sofre no processo de envelhecimento, podem vir acompanhadas de uma série de desbalanços químicos cerebrais que desencadeiam doenças diversas tais como demências, outros processos degenerativos e também transtornos depressivos.
Muito se tem estudado sobre a depressão, pois é muito comum. Alguns estudos estimam que até 20% da população em algum momento experimentará um episódio depressivo significativo ao longo da vida. As mulheres e os idosos são mais propensos à doença. Além de ser comum, é uma doença mental que costuma ser recorrente e com potencial de causar sérios problemas e limitações para a vida do paciente. Sabe-se que a depressão não costuma ser um problema com uma única causa. Pode-se ficar deprimido por circunstâncias externas adversas intensas e prolongadas como problemas familiares, luto, desemprego, frustrações, violência, abandono ou por adversidades físicas transitórias ou crônicas, como infarto, acidente vascular cerebral, doenças reumatológicas, câncer etc. Por todas essas razões, os idosos são mais vulneráveis ao desenvolvimento de quadros depressivos. Por viverem mais, sofrem maior exposição a todas as situações de risco citadas e, além do mais, têm um organismo mais suscetível às alterações cerebrais associadas à depressão. Ainda que seja comum, a depressão também não pode ser banalizada. É um diagnóstico médico e deve ser avaliada com seriedade. Depressão não é só “estar triste”. Tristeza é um sentimento comum que todos os seres humanos experimentamos. Quando passamos por qualquer situação de perda ou de um desejo não alcançado, é natural sentirmos tristeza. Entretanto, esse sentimento passa a ser patológico, isto é, doentio, quando atinge uma intensidade e/ou um tempo de duração excessivos, ao ponto de comprometer o funcionamento normal da pessoa, ou seja, quando passa a “atrapalhar” a vida normal.
No caso dos idosos, a depressão é muitas vezes pouco diagnosticada porque freqüentemente não se apresenta com os evidentes sintomas de perda de prazer pelas atividades antes agradáveis, alterações de sono e apetite e os sentimentos de tristeza marcante.
Nos idosos, esses sintomas podem ou não estar presentes, mas vários outros também são encontrados: sentimentos de inutilidade e desesperança; sintomas físicos inexplicáveis apesar de os exames serem normais; lentificação dos movimentos e do raciocínio; apatia, alterações de memória e da concentração; irritabilidade, inquietação, indecisão, baixa auto-estima; cansaço intenso, perda de energia; diminuição do desejo sexual, sentimentos de culpa… Além disso, tudo podem surgir sintomas que beiram os delírios, crenças irreais, idéias de falência sobre si mesmo, o desejo de morte e até atos auto-agressivos elaboração do suicídio.
Nem sempre, diante de quadros depressivos em idosos, é fácil diferenciar uma situação de depressão “pura” do início de um processo de demência, por exemplo, de doença de Alzheimer. No início dessa doença os sintomas tendem a se sobrepor. Nessas situações o acompanhamento por um geriatra pode ser muito importante para orientar a família e propor tratamentos individualizados. Muito se tem a fazer por um idoso com depressão. O tratamento, que inclui remédios – há diversas classes de medicamentos –, deve abordar também as outras esferas do ser humano: o suporte familiar, a prática regular de atividade física, a participação em grupos sociais e religiosos, o desenvolvimento de aptidões artísticas e manuais e a psicoterapia.
Todos esses aspectos do tratamento têm igual importância. Em relação aos remédios, alguns cuidados devem ser tomados: devem ser sempre prescritos pelo médico e o paciente deve seguir as dosagens propostas, referindo ao médico os efeitos colaterais e sendo persistente porque, em geral, os efeitos benéficos só são sentidos após mais de um mês de tratamento.
A depressão é, portanto, uma doença clínica comum, especialmente na população idosa. Precisamos estar atentos ao fato e não atribuirmos tais sintomas ao envelhecimento normal. Esses aspectos precisam ser abordados nas consultas de rotina e, quando tratados, podem melhorar significativamente a qualidade de vida. Afinal, é verdade que a vida se transforma, mas, como diz a canção, “saudade, sim, tristeza, não”!
Por Dra. Luciana Pricoli Vilela, medica especializada em Clínica Geral e Geriatria pela Universidade de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Luciana Pricoli Vilela Médica Geriatra e Clínica Geral - CRM/SP 116.078 www.pricolivilela.com.br e www.ageriatra.blogspot.com
Extraído de : http://longevidade-silvia.blogspot.com/
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