sábado, 8 de outubro de 2011

Dia Mundial de Cuidados Paliativos


Paliar tem sido um verbo cada vez mais comum na medicina. Felizmente. Já diz o meu cunhado, Guilherme Cherpak, médico, que os cuidados paliativos trazem uma perspectiva menos dolorosa e mais calorosa não só para o paciente, mas também para a família.
Não à toa, hoje (8/10) é o Dia Mundial de Cuidados Paliativos / World Hospice and Palliative Care Day, data promovida pela associação Help the Hospices, da Inglaterra, com o intuito de sensibilizar a sociedade diante das necessidades médicas, sociais e emocionais das pessoas que vivem com uma doença limitadora.
Aluno da residência de clínica médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Guilherme Cherpak está conhecendo a fundo uma unidade de paliação, cujo trabalho é conduzido com base no dueto respeito/dignidade diante da fragilidade da vida.
Pacientes em estado terminal (ou aqueles que convivem com doenças crônicas que exigem zelo para aliviar a dor e o sofrimento) formam o grupo que se beneficiam com a medicina paliativista.
“Estou oferecendo picolé a todos os pacientes que usam sonda. É uma lambuzeira só. É bom ver a cara de felicidade deles”, conta Guilherme, numa das muitas conversas informais e construtivas que tivemos nesta semana. Simples, a terapêutica do picolé é eficaz: “Ajuda a ativar o paladar dos pacientes e faz com que eles comecem a aceitar melhor a dieta por via oral”, diz.
Neste Dia Mundial de Cuidados Paliativos, por sinal, acontece o encerramento do 1º Simpósio Norte-Nordeste de Cuidados Paliativos, realizado pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos e apoiado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), onde acontece o evento.
Da programação, fazem parte temas como os aspectos psicológicos do adoecer, os direitos do cidadão em cuidados paliativos, a espiritualidade e o doente, a arte e o tratamento, entre outros assuntos.
Reconhecida como especialidade médica pelo CFM, em agosto deste ano, a terapêutica paliativa volta-se para a melhoria da qualidade de vida de quem tem doenças graves e crônicas que levam a um estado terminal. Através da atuação de uma equipe interdisciplinar, a medicina paliativista também busca oferecer suporte emocional, psicológico e  social para o doente e a família.
Assistência e proteção na dose certa formam uma máxima da medicina paliativista (Foto: Divulgação - Site stock.xchng)
“Ficar ao lado do paciente nos momentos mais simples, como na hora do remédio, e nos mais complexos, como nos casos em que ele tem um efeito colateral da quimioterapia, faz do enfermeiro um aliado no trabalho do médico”, ressalta a enfermeira Maria Ludermilleer Sabóia Mota, doutora em farmacologia. 
“Além de cuidarmos para que o tratamento seja seguido com exatidão, devemos estar atentos a possíveis mudanças no andamento da recuperação dos pacientes, especialmente daqueles que convivem com câncer”, complementa.
A especialista explica que as náuseas e os vômitos decorrentes da quimioterapia provocam uma deterioração importante da qualidade de vida do paciente. “Geralmente, o vômito não controlável pode levar a consequências como desidratação intensa e desequilíbrio grave, com risco de morte e necessidade de internação em unidade de terapia intensiva. A enfermagem precisa estar atenta a essas situações.” 
CONSCIENTIZAÇÃO
Pesquisas mostram, no entanto, que esse cenário é subestimado. Um novo estudo, apresentado hoje (8/10/2011) pela Aliança Mundial de Cuidados Paliativos (WPCA, na sigla em inglês) mostra que, dos 234 países existentes, apenas 136 têm um ou mais serviços de medicina paliativista para as pessoas gravemente doentes, suas famílias e seus cuidadores.
Dado de pesquisa apresentada pela Aliança Mundial de Cuidados Paliativos (Foto: Divulgação - Site stock.xchng)
Ou seja: 42% dos países não oferecem unidades de cuidados paliativos. O levantamento durou cerca de cinco anos.
“É preciso preparar os enfermeiros, os médicos e todos que compõem o núcleo responsável pelos cuidados paliativos do pacientes. A equipe deve saber, por exemplo, sobre a existência de antieméticos, medicamentos que evitam e controlam as náuseas e os vômitos induzidos pela quimioterapia”, salienta Maria Lurdemileer.
Ela acrescenta que, por falta de informação, mais de 50% dos pacientes com câncer ainda sofrem com essa indisposição. “Muitos adiam e até interrompem o tratamento em decorrência do mal-estar causados pelos enjoos, que é considerado um dos principais efeitos colaterais da quimioterapia.” 
O estudo da WPCA frisa que um componente fundamental dos cuidados paliativos é o tratamento da dor. No momento, contudo, 80% da população mundial vive em países com baixo ou nenhum acesso aos medicamentos para o tratamento de dor moderada a grave.
“Estamos animados porque houve um aumento acentuado no número de serviços que prestam cuidados paliativos: passou de 10 mil em 2006 para 16 mil em 2011″, disse o executivo sênior da WPCA, Stephen Connor, coautor do relatório.
“Permanecemos, no entanto, extremamente preocupados com o fato de que apenas 20 países a nível mundial (8,5%) oferecem cuidados paliativos que são totalmente integrados com a rede ampla de saúde”, acrescentou.
Dessa maneira, a WPCA clama hoje por serviços de cuidados paliativos acessíveis a todos que enfrentam enfermidades crônicas e fatais, incluindo as pessoas que convivem com doenças não transmissíveis.
“A data de hoje serve para voltarmos a atenção para os milhões de indivíduos que vivem com dor e sofrimento desnecessários por não terem acesso a serviços de paliação”, destacou o copresidente da WPCA, David Praill.
Aproveitemos a oportunidade, então, para refletirmos melhor sobre todas essas questões.

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