A Psicologia pode contribuir para um envelhecimento mais saudável. Na verdade, pensar na promoção de um envelhecimento saudável é bastante amplo.
Primeiramente, sabe-se que pensar num envelhecimento saudável não é possível apenas sob a luz de uma vertente profissional, mas sim a partir de um olhar interdisciplinar que abranja, além da psicologia, a geriatria, a odontologia, a fisioterapia, a fonoaudiologia, o direito, a terapia ocupacional, o serviço social, a pedagogia, a arquitetura, dentre outras áreas de saber direta ou indiretamente relacionadas com o estudo do processo de envelhecimento.
Segundo: uma pessoa não envelhece apenas quando ela faz sessenta anos. Deve-se pensar em seu próprio envelhecimento o mais cedo possível, pois nossos atos do passado influenciam diretamente em nosso processo de envelhecimento. Por exemplo, uma pessoa que se expõe excessivamente ao sol desde criança provavelmente irá apresentar sinais de envelhecimento cutâneo mais cedo que uma pessoa que controla de maneira consciente sua exposição ao sol. Ou seja, pensar em envelhecer com saúde implica em prevenção e na adoção de hábitos de vida saudáveis durante todo o curso de vida.
Um terceiro ponto deve ser considerado: a promoção de um envelhecimento saudável não é uma preocupação apenas do idoso, mas sim da família, da sociedade, do governo. É necessário pensar grande!
A Psicologia enquanto Ciência precisa atuar no âmbito de um envelhecimento saudável, atuando no estudo de temas pertinentes, tais como: alterações cognitivas e comportamentais; solução de problemas e inteligência prática; emoções; relações sociais; personalidade; sabedoria; criatividade; dependência; morte e finitude; qualidade de vida; atividade; violência; trabalho e aposentadoria; saúde mental, dentre outros temas pertinentes. (NERI, 2004).
Neste contexto, torna-se importante, como apregoa o Estatuto do Idoso, contribuir para eliminar o preconceito e produzir conhecimentos sobre a matéria no ensino formal (Art.22) e promover, nos meios de comunicação, conteúdos relacionados ao processo de envelhecimento (Art.24). A psicologia pode e deve atuar nesta empreitada, por exemplo, através da confecção de materiais informativos voltados para idosos e para as demais faixas etárias.
A Psicologia enquanto Profissão também pode ter um papel significativo na atuação direta com os idosos, seja em modalidade de psicoterapia de grupos ou individual. Freud, por exemplo, considerava a psicoterapia inapropriada para o idoso, porém, atualmente, sabe-se que esta pode contribuir para um envelhecimento mais saudável (tanto do ponto de vista da prevenção, quanto do tratamento de problemas já instalados), independente da linha de atuação do profissional.
Eizirik, Knijnik e Vasconcellos (2008) destacam alguns temas importantes a serem trabalhados com o idoso na psicoterapia: as perdas (da saúde, das capacidades, dos entes queridos, do trabalho, dos papéis sociais); a manutenção da autoestima; trabalhar a questão da rigidez, comum no idoso. Em relação ao envelhecimento patológico, com déficits cognitivos, Pádua, Souza e Brunstein (2008) destacam: elaborar intervenções psicoeducacionais para o paciente com demência e seu cuidador, além de enumerar sugestões práticas para o manejo de situações difíceis. Acrescento que também é muito importante que o profissional da psicologia esteja capacitado para realizar avaliações neuropsicológicas e estimulações cognitivas em idosos com queixas de memória.
De maneira geral, o psicólogo pode atuar tanto em âmbito de prevenção primária em idosos saudáveis como na reabilitação em idosos que já possuem algum tipo de problema instalado. Além dessas áreas específicas, o profissional deve sempre se lembrar de seu compromisso na promoção da saúde num sentido amplo, biológico, psicológico, social e espiritual. Assim, faz-se importante incentivar a preocupação com a saúde física e a realização de exames médicos periódicos; a manutenção de uma rede social efetiva, com a manutenção de papéis sociais; a promoção da autonomia e da atividade (por exemplo, a participação em grupos); o incentivo ao lazer e ao descanso; a promoção de relações familiares saudáveis, dentre outras posturas que visem um envelhecimento com qualidade de vida.
Referências:
NERI, A. L. O que a psicologia tem a oferecer ao estudo e à intervenção no campo do envelhecimento no Brasil, hoje. In: NERI, A. L.; YASSUDA, M. S. (orgs). Velhice bem-sucedida. Campinas: Papirus, 2004.
PÁDUA, A. C.; SOUZA, S. B. C.; BRUNSTEIN, M. G. Abordagens psicossociais para pacientes com demência. In: CORDIOLI, A. V. et al. Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Atmed, 2008.
EIZIRIK, C. L.; KNIJNIK, J.; VASCONCELLOS, M. C. G. Psicoterapia na velhice. In: CORDIOLI, A. V. et al. Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Atmed, 2008.
Luciene C. Miranda
Psicóloga - lucienecm@yahoo.com.br
Cuidar de Idosos
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