quinta-feira, 21 de abril de 2011

Habilidades e limitações

Ao longo de nossas vidas, é nítido perceber que temos várias habilidades, mas também possuímos nossas limitações. Ou seja, em outras palavras, somos bons em algumas coisas e nem tão bons em outras. Isto acontece no decorrer da vida, algumas habilidades e limitações se mantém, outras se modificam devido a uma série de fatores, como, por exemplo, mudança de interesses ou estilo de vida, treinamento, dentre outros motivos.

Para algumas pessoas parece ser extremamente difícil enxergar suas próprias limitações e falar das mesmas. Para outras, acontece o contrário: preferem falar de suas limitações e demonstram grande dificuldade quando alguém lhe pergunta sobre aquilo que ela tem de melhor.

Porém, há uma tendência natural de as pessoas associarem o envelhecimento apenas às limitações, ou seja, elas enfocam apenas as perdas, os problemas e se esquecem daquilo que têm de bom, suas habilidades. Este lado bom não necessariamente se perde com o passar dos anos, isto é fato!

Esta postura de reforçar apenas suas limitações é bastante pessimista e pode contribuir para que o idoso se sinta incapaz, com baixa autoestima e deprimido. Infelizmente as famílias e a sociedade em geral tendem a reforçar esta postura. Neste sentido, é comum ressaltarem coisas que o idoso fazia e não pode mais fazer (“A vovó era uma cozinheira e tanto, mas hoje sua artrose não a deixa mais mexer nas panelas”); enfatizar sua dependência (“Papai não tem mais condições de dirigir, por isto precisamos carregá-lo sempre”); reforçar mudanças indesejáveis que aconteceram com o passar dos anos (“Antigamente a mamãe lembrava os aniversários de toda a família, hoje muito mal se lembra da data dos filhos”); e mesmo reforçar uma baixa autoestima (“O papai antigamente era forte e tinha uma excelente postura, hoje está magro demais e corcunda”). Percebam como nestas falas só há ênfase nas mudanças negativas ocorridas com o passar dos anos.

Uma postura bastante saudável seria a de ressaltar as potencialidades do idoso nesta etapa de sua vida. Importante aqui fazer isto de maneira realista, condizente com a realidade e não ficar criando situações forçadas a fantasiosas referentes ao idoso. Não é legal infantilizar o idoso (“Nossa, como ele faz isso direitinho”) ou fazer elogios irreais. Vale a pena ressaltar as reais potencialidades do idoso, por exemplo, aquelas que se manteram no decorrer dos anos (“Mamãe sempre cozinhou muito bem e continua fazendo isso”); enfatizar aquilo que melhorou com o passar dos anos (“Com o passar dos anos papai se tornou uma pessoa mais sábia e centrada”); dar valor àquilo que foi aprendido já em idade mais avançada (“Vovô se tornou um ótimo dançarino após aposentar, pois dedicou seu tempo livre para aprender a dançar e acompanhar a vovó, que sempre dançou muito bem”); promover uma boa autoestima e autoimagem (“Mãe, como esta roupa lhe cai bem!”).

Deslocar o foco das limitações para as habilidades e potencialidades do idoso auxilia o idoso, mas também a família e a sociedade a entenderem que o envelhecimento não é apenas sinônimo de perdas, existem ganhos neste período e, além disso, algumas habilidades se mantêm com o passar dos anos e merecem ser destacadas.
 
Luciene C. Miranda
Psicóloga - lucienecm@yahoo.com.br
Extraído de: Cuidar de Idosos

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