O aumento da expectativa de vida da população brasileira associado a uma maior proporção de pessoas idosas em nosso país ajuda a provocar uma sensível mudança no ponto de vista da população em geral.
Uma dessas mudanças diz respeito ao aumento da expectativa de vida: graças aos avanços médicos tecnológicos as pessoas estão vivendo cada vez mais, o que acaba acarretando aparentes modificações no curso de vida: as pessoas prolongam a adolescência, buscam mais de uma graduação, estudam mais, adiam o casamento, adiam a maternidade, deixam a aposentadoria para mais tarde, pois acreditam que terão mais tempo para curtir o presente e o futuro. Pessoas que atualmente se encontram na meia-idade há meio século eram taxadas como velhas e viviam segundo este antigo modelo social de que velhice era sinônimo de dependência, estagnação e ausência de expectativas em relação ao futuro.
Esta verdadeira postergação de alguns eventos da vida reflete mais um lado desta nova realidade: além de querer viver mais anos, almeja-se ter qualidade de vida. A preocupação em viver muitos anos gozando de boa saúde (do ponto de vista biopsicossocial) reflete uma recente realidade: o planejamento para seu próprio envelhecimento.
Planejar sua velhice consiste numa série de preocupações e atitudes que vêm sendo tomadas ao longo da vida, com o intuito de se ter um envelhecimento mais tranquilo. Pensa-se na prevenção, para não ser pego de surpresa num momento desagradável. Planejar a velhice implica em pensar em aspectos familiares, de saúde, financeiros, sociais, dentre outros, os quais serão ilustrados a seguir.
Em relação à família, a primeira escolha se diz respeito a casar-se ou manter-se solteiro; permanecer casado, divorciar-se, recasar-se ou não. Mesmo que de maneira inconsciente, ainda na juventude, o casal acaba planejando quantos filhos terá, ou seja, quem o acompanhará em sua velhice. Infelizmente ter mais ou menos filhos não é garantia de cuidados na velhice, visto que é considerável o número de filhos que não querem cuidar dos pais idosos, porém, até hoje existe o estigma de que quem não tiver filhos não terá ninguém para cuida-lo no futuro.
Cuidar da saúde, adotar hábitos de vida saudáveis e prevenir doenças são umas das formas mais importantes (se não disser a mais importante) de se planejar uma velhice satisfatória. Cuidar da saúde é um investimento vitalício e de longo prazo, e esta preocupação deve começar o mais cedo possível.
Ser rico não é necessariamente sinônimo de envelhecer bem (visto que dinheiro não financia saúde), mas precisamos dele para envelhecer com dignidade. Esta é outra preocupação de longo prazo: precisamos, desde cedo, planejar aposentadoria, previdência privada, planos de saúde, planos funerários. Além disso, atualmente alguns idosos já demonstram uma preocupação além: de guardarem uma reserva financeira para se, com o avanço da idade, surgirem gastos como uso de remédios, contratação de cuidadores ou mesmo mensalidades de instituições de longa permanência. Uma forma consciente de garantir um futuro tranquilo para si mesmo, sem depender exclusivamente da família para gastos e cuidados.
Em relação ao convívio social, vários estudos mostram que manter uma vida social ativa e ter bons amigos ao longo da vida é fator protetor durante o processo de envelhecimento. Ter com quem dividir alegrias, tristezas, conquistas e perdas é muito importante, e parece ser cada vez mais difícil fazer amizades sinceras e conserva-las com o passar dos anos. Envelhece-se junto com os amigos!
Com base nestes poucos aspectos aqui elucidados torna-se mais fácil perceber a importância de pensar em seu próprio envelhecimento e planejar para que, na medida do possível, este evento não seja acompanhado de surpresas desagradáveis que poderiam ser prevenidas mais cedo.
Luciene C. Miranda
Psicóloga - lucienecm@yahoo.com.br
Cuidar de Idosos
Nenhum comentário:
Postar um comentário